Uma família de Paranaguá, no
litoral do estado, denuncia negligência no caso da morte da manicure Alessandra
Matoso dos Santos, de 33 anos. Vítima de dengue hemorrágica, ela faleceu na
tarde do último domingo (20), logo após receber alta do Hospital Regional do
Litoral.
Alessandra deixou duas filhas,
uma de 12 e outra de 16 anos. Segundo a irmã da vítima,
Elizandra Matoso, uma série de erros no atendimento por parte do município e do
estado levou à morte da manicure. “Ela descobriu a doença na terça-feira
passada, por meio de um exame particular. Isso porque está difícil conseguir o
diagnóstico pelo Sistema Único de Saúde [SUS], você tem que esperar horas para
ser atendido. Depois que ela descobriu a doença, passou a se cuidar, a tomar
soro e remédio, e melhorou um pouco”, contou Elizandra em entrevista à Banda B.
No sábado (19) pela manhã, no entanto,
Alessandra voltou a passar mal e foi levada para a Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) de Paranaguá. “Lá, eles não conseguiram fazer o procedimento
porque não encontraram a veia dela. Ela foi furada mais de dez vezes pelo corpo
inteiro, mas não deu certo. Um dos médicos falou para a Alessandra tomar uma
injeção e ir embora, sem mais nem menos. Até que um outro apareceu e disse que
não poderia liberar a minha irmã daquele jeito. Ele a mandou, então, para o
Hospital Regional”, completou Elizandra.
No Hospital, a paciente enfrentou
novas dificuldades, segundo a família. “Ela ficou no corredor até as 3h da
madrugada de domingo, esperando por uma vaga, isso sem que a gente pudesse
entrar ou saber o que estava acontecendo. Nós pedíamos informação, mas ninguém
falava nada. Pela manhã, às 7h30, a minha mãe voltou ao hospital para falar com
a assistente social, que respondeu que não podia passar nenhum detalhe sobre o
estado da Alessandra. A minha mãe foi orientada a ir para casa e retornar só no
horário de visita, às 16h”, relatou.
Recebeu alta
Transtornados com a situação,
Elizandra resolveu ir até o hospital, mas só foi recebida depois das 16h. “Eu
fiquei apavorada quando vi a minha irmã, eu nem a reconheci. Ela estava toda
encharcada, inchada, sem soro ou medicação. A Alessandra não conseguia comer e
morria de fome. Eu corri pelos corredores para pedir ajuda e encontrei um homem
de azul, que parecia ser médico, sentado mexendo no celular. Eu relatei o que
houve e ele só levantou a cabeça, olhou para mim e disse: ‘Eu sou o médico da
Alessandra e eu dei alta para ela. Os exames de plaqueta mostram que está tudo
bem e ela vai para casa’”.
Elizandra retrucou, dizendo que o
quadro clínico da irmã era preocupante, e convidou o médico a ir até o quarto
onde ela estava. “Ele não quis me acompanhar e respondeu: ‘Só traga a paciente
aqui de novo se ela estiver sangrando, em estado muito grave. Aqui é só para
dengue hemorrágica’. Eu saí de lá arrasada, com a minha irmã no colo. No
caminho para casa, em um táxi, a Alessandra me disse baixinho que queria comer
e tomar um banho. Eu concordei, disse que ia cozinhar para ela”.
Ao chegar na residência,
Elizandra começou a preparar uma sopa para a irmã. “Passaram-se 15 minutos e,
quando fui vê-la, ela já estava gelada, morta. Nós saímos correndo para tentar
salvá-la, reanimá-la, mas não teve jeito. Na UPA, eles fizeram os primeiros
socorros, mas já fazia 25 minutos que ela estava em óbito. A gente voltou para
o hospital e, com a Alessandra no colo, eu perguntei: ‘Cadê o médico que disse
que a minha irmã estava bem?’. Os enfermeiros ainda a levaram para o quarto e
fingiram que tentavam fazer alguma coisa. É um descaso total, a prefeitura diz
que a dengue está controlada, mas não está. Os médicos e enfermeiros não estão
preparados para isso”, concluiu.
O corpo de Alessandra foi
sepultado nesta segunda-feira (21). De acordo com a família, o exame do
Instituto Médico Legal apontou que ela morreu de dengue hemorrágica. Ela deixou
duas filhas, uma de 12 e outra de 16 anos.
Procurada pela Banda B, a
Secretaria de Estado da Saúde informou que abriu processo administrativo para
investigar o atendimento da paciente. A reportagem também entrou em contato com
a prefeitura de Paranaguá e aguarda retorno.
Foto: Alessandra deixou duas
filhas, uma de 12 e outra de 16 anos. (Arquivo pessoal)
Por: Marina
Sequinel e Geovane Barreiro
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