BRASÍLIA - A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu alerta nesta
quinta-feira, 29, sobre eventuais riscos do uso da vacina contra dengue
produzida pela Sanofi Pasteur em pessoas que nunca tiveram contato com o vírus.
Dados preliminares de um estudo conduzido pelo próprio laboratório e
apresentados esta semana para a agência indicam um aumento do risco do
desenvolvimento da forma grave da doença nesse grupo.
No
comunicado, a Anvisa esclarece que a vacina em si não desencadeia a dengue nem
a forma grave da doença. O risco de aparecimento de casos graves estaria
restrito, de acordo com o trabalho, às pessoas que nunca tiveram contato com o
vírus.
A Anvisa destacou que os dados precisam de confirmação. Mesmo
assim, como medida de precaução, a bula da vacina deverá ser atualizada. Já o
próprio laboratório admite que a vacina deixará de ser recomendada para pessoas
que nunca tiveram dengue. “Não é uma contraindicação porque os riscos são
baixos, mas deixamos de recomendá-la para quem nunca teve contato com o vírus
porque os estudos mostraram que não compensa para esse público”, disse Sheila
Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur.
A vacina foi aprovada no Brasil em 2015. Ela é indicada para a
proteção contra os 4 tipos de vírus da dengue e aplicada em três doses. Na
época do lançamento, a informação era a de que o imunizante proporcionaria
eficácia global de 65%. Isso significa que, mesmo depois de vacinadas, as
pessoas tinham o risco de 35% de contrair a doença se fossem expostas ao vírus.
O desempenho da vacina, contudo, variava de acordo com o subtipo
do vírus. No subtipo 1, o grau de proteção é de 58%. No subtipo 2, por sua vez,
de 47%. Nos demais subtipos, a proteção é um pouco maior: de 73,6% (no caso do
subtipo 3) e de 83%, para subtipo 4.
A vacina está disponível nas clínicas particulares. Ela não é
adotada no Programa Nacional de Imunização. O governo do Paraná, no entanto,
comprou por iniciativa própria cerca de 700 mil doses da vacina, para ser
ofertada para moradores de áreas consideradas de maior risco. Dos 399
municípios do Estado, 30 receberam o imunizante. O secretário de Saúde do
Paraná, Michele Caputo Neto, afirmou que a iniciativa será mantida. “A decisão
de incorporar a vacina foi adotada com dados epidemiológicos consistentes. Não há
motivo para mudança da estratégia”, assegurou.
Até agora, o Paraná vacinou 300 mil pessoas contra a dengue em
três etapas da campanha, entre 2016 e 2017. Um novo ciclo de vacinação está
previsto para março de 2018. “Não houve nenhum relato de complicações
provocadas pelo imunizante”, disse Caputo Neto.
Os estudos conduzidos pela fabricante da vacina mostram que o
aumento de risco se traduz em 5 casos de hospitalização em cada mil pessoas que
nunca haviam tido contato com o vírus e foram vacinadas e 2 casos de dengue
severa em cada mil pessoas vacinadas sem contato prévio com o vírus.
Fonte: Jornal do Estado de São Paulo (Estadão)