"O número de pessoas que vivem em áreas
afetadas por estresse térmico extremo aumenta de 68 milhões hoje para cerca de
1 bilhão", diz estudo publicado no Met Office e divulgado na COP26.
O principal objetivo da cúpula climática, que
ocorre em Glasgow, no Reino Unido, é conseguir limitar o aquecimento global a
1,5ºC, mas os delegados têm advertido de que "há muito trabalho"
ainda a ser feito para alcançar essa meta.
Um aumento de 4ºC, alerta ainda o estudo,
"pode fazer com que quase metade da população mundial viva em áreas
potencialmente afetadas".
O estresse térmico é definido como uma temperatura
global do chamado bulbo úmido (padrão internacional para medir o estresse de
calor a que as pessoas são sujeitas) acima dos 32ºC, uma medida que avalia a
combinação de fatores como a temperatura, a umidade, a velocidade do vento e a
radiação solar. Quando essa medida atinge os 35ºC, o corpo humano não consegue
arrefecer com o suor e até as pessoas saudáveis que estejam à sombra podem
morrer em apenas seis horas.
Nessas condições, as pessoas sujeitas a esse
estresse térmico extremo podem sofrer com exaustão pelo calor e com sintomas
que incluem sudorese intensa e pulso acelerado, o que por sua vez pode
sobrecarregar o coração e outros órgãos, levando à falência do organismo.
"Acima desse nível, as pessoas passam a estar
em risco extremo. Os membros vulneráveis da população e quem tiver trabalhos
físicos ao ar livre corre maior risco de efeitos adversos à saúde. Atualmente,
a métrica é usada em vários locais, como regiões da Índia, mas a nossa análise
mostra que com um aumento de 4ºC, o risco de calor extremo pode afetar pessoas
em grandes áreas da maioria dos continentes do mundo", explicou no
documento Andy Hartley, líder de Impactos Climáticos do Met Office.
O calor é o impacto mais óbvio do aquecimento
global, estando o calor extremo em várias regiões do mundo a triplicar nas
últimas décadas. No verão de 2020, mais de um quarto da população dos Estados
Unidos, por exemplo, sofreram os efeitos do calor extremo, com sintomas que
incluíam náuseas e cólicas. Pelo menos 166 mil pessoas morreram devido a ondas
de calor nas duas décadas até 2017, de acordo com a Organização Mundial de
Saúde.
O estudo do Met Office baseou-se na pesquisa do
projeto Helix, financiado pela União Europeia, que também mapeia os riscos
crescentes de inundações, incêndios florestais, secas e insegurança alimentar.
De acordo com essa análise, praticamente todo o mundo habitado é afetado por,
pelo menos, um desses impactos.
"A nova análise combinada mostra a urgência de
limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C. Quanto maior for o
aquecimento, mais graves e generalizados são os riscos para a vida das pessoas.
Mas ainda é possível evitar esses riscos mais elevados se agirmos agora",
afirmou Richard Betts, MBE da Universidade de Exeter e do Met Office, que
liderou o projeto Helix.
Os países tropicais, incluindo o Brasil, a Etiópia
e a Índia, são os mais atingidos pelo estresse extremo de calor, com algumas
regiões atingindo temperaturas para lá do limite da capacidade humana. Albert
Klein Tank, diretor do Met Office Hadley Center, alertou que essa pesquisa
demonstra que são várias as regiões do mundo onde se prevê que ocorram os
impactos mais graves.
"No entanto, espera-se que todas as regiões do
mundo - incluindo o Reino Unido e a Europa - sofram impactos contínuos das
mudanças climáticas", acrescentou.
Qualquer um desses impactos climáticos, afirmou
Andy Wiltshire, chefe do Sistema Terrestre e Ciência da Mitigação,
"apresenta uma visão assustadora do futuro". Mas, as alterações
climáticas "severas causarão muitos impactos, e os nossos mapas mostram
que algumas regiões vão ser afetadas por vários fatores".
Por isso, segundo ele, é urgente que sejam
reduzidas rapidamente as emissões poluentes. "Se quisermos evitar as
piores consequências das alterações climáticas não mitigadas".
Por RTP - Glasgow (Escócia)
© Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil
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