A Organização
Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 37% da população brasileira, cerca
de 60 milhões de pessoas, convivem com a dor gerada pela má postura ao manusear
os smartphones. O número já é mais do que a média mundial que é de 35%.
Segundo
pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os celulares ativos já somam 230
milhões no Brasil, um crescimento de 10 milhões em comparação com 2018 .O
Brasil tem mais dispositivos digitais do que brasileiros, uma média de dois
smartphones, notebooks, computadores ou tablets por habitante.
Por isso,
profissionais da saúde estão alertando os usuários com relação à postura ao
utilizar os aparelhos. Se não for corrigida, pode gerar dor crônica e lesões que
podem até precisar de cirurgia.
Ouça na RádioNacional : entrevista com o coordenador do Núcleo de Ortopedia do Hospital
Samaritano de São Paulo, Luiz Fernando
Cocco.
A ortopedista
do Grupo Notedrame Intermédica, Liége Mentz-Rosano, explicou que o uso do
celular faz com que a pessoa fique em uma posição viciosa, levando o pescoço a
fazer uma flexão, que eleva o peso carregado pela região.
“Quando
ficamos em uma posição neutra de zero graus, é exercida uma força de cinco
quilos. À medida em que vamos dobrando o pescoço e fazendo uma curva, o ângulo
aumenta e a pressão exercida ao chegar em 30 graus será de 18 quilos. Aos 60
graus, chega em 30 quilos”, destacou.
Segundo Liège,
isso leva à sobrecarga nos discos, que são como borrachinhas entre cada
vértebra, que servem como amortecedores para evitar lesões quando são feitos
movimento de impacto, além de serem fundamentais para a mobilidade.
“Essas lesões
causadas pelo uso excessivo do celular podem levar à degeneração do disco, que
vai formando uma barriga, que nada mais é do que a hérnia de disco. Essas
hérnias podem resultar na compressão dos nervos, ocasionando perda de força,
formigamento braços, artrose precoce nas pessoas mais jovens, degeneração não
só no disco, mas na parte óssea”, disse Liége.
A médica
explicou ainda que muitas vezes as lesões da cervical podem levar o indivíduo a
sentir dores fortes de cabeça, sem associar os fatos. “Muitas vezes as pessoas
têm dor de cabeça e não sabem que é do pescoço. Temos inclusive, visto um
aumento grande na incidência de pessoas mais jovens, adolescentes, jovens
adultos e até crianças que relatam dor no pescoço e dores de cabeça por conta
da lesão.”
Prevenção
Liége reforçou
que a prevenção é a melhor forma para evitar esses problemas. Além de manter a
postura correta ao manusear o celular, levando-o a uma posição neutra em que se
consiga olhar discretamente para baixo, utilizar apoios, ou transferir os
aplicativos possíveis para o computador, é preciso fazer exercícios de
fortalecimento e alongamento de uma a mais vezes por dia. “Quando fortalecemos
a musculatura anterior e posterior, fortalecemos as estruturas do pescoço. Isso
protege e ajuda na correção postural.”
De acordo com
o responsável técnico de hospital Anderson Benine Belezia, há diferentes
métodos de imagem para avaliar a coluna cervical. O primeiro é uma radiografia
simples da região, exame simples pelo qual é possível avaliar as estruturas
ósseas e ver sinais que podem sugerir problemas no disco intervertebral. O
segundo é uma tomografia computadorizada, que tem a maior capacidade de
avaliação das estruturas ósseas. Já o terceiro, a ressonância magnética é o que
tem melhor capacidade de avaliação de danos nos discos interverterias (hérnias
principalmente), podendo avaliar eventuais compressões nervosas e da medula com
maior precisão que outros métodos.
“Nos três
exames, o médico radiologista avalia as alterações presentes ou não,
correlacionando com os dados clínicos informados pelo médico solicitante ou
pelo próprio paciente, e fornece uma descrição detalhada dos achados de imagem
que poderão nortear o tratamento e manejo clínico ou cirúrgico do paciente”,
explicou Belezia.
A
nutricionista Jessica Ramos contou que tem o hábito de utilizar o celular de
12 a 15 horas por dia. Foi depois de
concluir seu mestrado – momento em que teve mais tempo para ficar no celular –
que começou a sentir mais dores no pescoço, irradiando para o ombro e braço.
“Até meus dedos doem ao digitar. Eu acredito que esteja associado ao uso
excessivo do celular. A médica me pediu para fazer alguns exames e me passou
medicações leves. Agora estou tomando mais cuidado com a postura, tentando usar
o fone de ouvido nas ligações e quando mando mensagem colocar a postura mais
ereta possível”, disse.
Fonte: Agência Brasil/Flávia Albuquerque