Durante minha
caminhada pela Rua da Praia, em Paranaguá, tive um encontro inesperado com uma
ex-garota de programa que se aproximou de mim. Enquanto contemplávamos os
casarões abandonados, iniciamos uma conversa sobre a cidade e suas
transformações ao longo dos anos.
Ela compartilhou suas experiências como profissional do sexo na região do Porto de Paranaguá, nas boates locais, mencionando lugares como a "Maria Bonita" no bairro Rocio e o "Conquistador" na região da Boca da Barra. Naquela época, havia uma grande demanda por serviços de entretenimento noturno e muitos turistas internacionais frequentavam esses estabelecimentos. Ela descreveu as festas particulares e a intensa vida social, onde fez amizades com pessoas influentes, políticos e autoridades.
Conforme nossa conversa prosseguia, ela mencionou que o tempo passou para todos, e muitas de suas amigas de profissão enfrentaram dificuldades e tragédias, incluindo a perda de vidas devido à AIDS. Algumas conseguiram reconstruir suas vidas ao encontrar parceiros estrangeiros e se estabelecer em outros lugares. Outras envelheceram e perderam espaço para a nova geração.
Ao questioná-la sobre as mudanças na cidade, ela destacou a falta de segurança e o aumento do consumo de drogas. Com tristeza, mencionou que a atmosfera de respeito e educação que existia antes entre os jovens foi substituída pela banalização das drogas e pela falta de respeito.
Apesar de ter deixado sua antiga vida para trás, ela reconheceu que seu passado moldou quem ela é hoje. Atualmente, trabalha como diarista e leva uma vida mais tranquila, ao lado de um companheiro. Ela expressou preocupação com o futuro e apelou para que a juventude construa uma cidade melhor, evitando a ilusão das drogas e do sexo fácil.
Embora eu não possa revelar seu nome, suas histórias refletem um período fascinante e complexo da história de Paranaguá. Sua perspectiva nos lembra da importância de compreender o passado para construir um futuro melhor. É fundamental que as gerações mais jovens conheçam e valorizem a história de sua cidade, explorando as narrativas de pessoas como essa senhora, cujas vidas foram profundamente afetadas pelas circunstâncias específicas de uma época.
Espero encontrar essa mulher novamente um dia e
ouvir mais sobre essas histórias intrigantes que revelam uma perspectiva
singular sobre a vida em Paranaguá no passado. Relatos como esse desafiam nossa
compreensão da cidade e de seus habitantes, abrindo espaço para reflexões e
discussões mais amplas sobre seu desenvolvimento e futuro.
Texto: Edye Venancio
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