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Parabéns Guaraqueçaba são 476 anos de muitas histórias

Nascido na Vila do Almeida, uma das comunidades pesqueiras de Guaraqueçaba, que hoje completa 476 anos, reflito sobre minha identidade como guaraqueçabano. Crescer nestas terras é entender a árdua realidade dos pescadores, uma classe essencial que sustenta não apenas suas famílias, mas também abastece nossa mesa com os frutos do mar.

Sai desta vila com seis anos e fui morar na Iha dos Valadares, em Paranaguá-Pr.

Guaraqueçaba evoca não apenas uma geografia, mas uma comunidade resiliente que constrói seu legado dia após dia. Sorrisos são frequentemente compartilhados, apesar dos desafios, tornando-se o cartão de visitas para aqueles que descobrem este lugar único e se encantam.

Enquanto celebramos este marco histórico, é crucial não apenas reconhecer, mas também honrar aqueles que habitam as ilhas e territórios deste município. Que possam desfrutar de um futuro mais promissor, continuando a escrever novos capítulos de uma história que cativa turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo.



Parabéns Guaraqueçaba!




História

Até a primeira metade do século XVI, os únicos habitantes da região eram os grupos indígenas, que se distribuíam pelos estuários e baías do litoral paranaense, principalmente às margens da baía de Paranaguá. Inicialmente, a região era habitada por tupiniquins, tendo, mais ao sul do litoral paranaense e norte catarinense, a frequente presença de índios carijós, hábeis em descer do planalto à planície litorânea pelo caminho de Peabiru e seus ramais. Esse antigo caminho indígena ligava o Império Inca localizado nas cordilheiras dos Andes ao litoral paulista, com ramificações para o litoral paranaense e catarinense. Por meio dessas ramificações, as nações indígenas nômades iam do litoral para o planalto e vice-versa.


No começo do século XVI, os carijós pertencentes ao tronco Tupi-Guarani, ocupavam toda a costa sul do Brasil, desde a barra de Cananéia até o Rio Grande do Sul. Registros históricos estimam que havia de 6 a 8 mil Carijós no litoral paranaense desenvolvendo atividades de lavoura e pesca. No litoral, as atividades cotidianas incluíam a caça, a pesca, coleta de ostras, mexilhões, bacucus, caranguejos, etc. Prova da presença desses povos antigos, são os vestígios deixados, chamados de sambaquis (Depósito natural de cascas de ostras e outras conchas) encontrados ora na costa, ora em lagoas ou rios. Em Guaraqueçaba, ainda se encontram vários sambaquis em bom estado de conservação.


Com o achamento do Brasil, pelos portugueses, em 22 de Abril de 1500, e a fundação da colônia de São Vicente, em 1532, no litoral paulista, partiram as primeiras expedições de exploração ao complexo estuarino de Cananéia, Iguape e Paranaguá. A história refere-se à presença, em 1545, de colonos lusos estabelecidos em Superagui e, entre 1550 a 1560, na Ilha da Cotinga.
No dia 18 de Novembro de 1547, ao tentar esconder-se de uma tempestade, o navegador alemão, Hans Staden, se abriga no canal do Superagui, onde encontrou ali índios tupiniquins e dois portugueses náufragos. Esse navegador descreveu o que viu: índios usando peles de animais ferozes para se proteger do frio. Seu relato de viagem, do ano de 1556, apresenta a primeira carta da baía de Paranaguá. Posteriormente, na intenção de capturar índios para escravizá-los, portugueses, vindos do litoral paulista, chegaram à BAÍA DE GUARAQUEÇABA e ali descobriram ouro nos rios Ribeira, Açungui e Serra Negra; fixaram-se na região, iniciando assim, as atividades de mineração no Brasil.


Em 1614, Diogo de Unhatte, tabelião da ouvidoria de São Vicente, obteve, de Pero Cubas, a sesmaria, denominada Paranaguá, localizada entre os rios Ararapira e Superagui – atual município de Guaraqueçaba. Povoamento mais efetivo, pelos europeus, se deu no século XVII, através da atuação do capitão-mor, Gabriel de Lara. Outro grupo de portugueses, os chamados bandeirantes, vindo de São Paulo, instalou-se às margens dos rios da baía de Guaraqueçaba. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, nesse mesmo século, encerra-se o ciclo de mineração nessa região e as comunidades se mantiveram por meio da agricultura de subsistência. A população foi crescendo e o cultivo e comércio de arroz, cana-de-açúcar, aipim, banana, café, milho e feijão se intensificaram.


No século XVIII, fazendas de comercialização de produtos agrícolas e madeira cresceram com o trabalho escravo, inclusive, os produtos eram exportados para a Argentina e o Paraguai, sendo transportados, pelo rio, em canoas e pequenas embarcações, até o porto de Guaraqueçaba ou Paranaguá, onde eram comercializados. Nesse período, a região sofreu a influência cultural de europeus e africanos.
Em 1838, Cypriano Custódio de Araujo e Jorge Fernandes Corrêa, antigos proprietários de terras, construíram a Capela do Bom Jesus dos Perdões, na encosta do Morro Quitumbê. Em torno da capela surgiram habitações e, em pouco tempo, a povoação nascente ganha direito e privilégios. Elevado à freguesia em 1854, mas somente gozando do predicamento de Vila, no ano de 1880.  Em 1938, a Vila foi extinta e anexada como Distrito ao Município de Paranaguá. Voltou a figurar como município autônomo, em 1947.


Em meados do século XIX, quando o Paraná elevou-se a categoria de Estado, muitos imigrantes europeus, principalmente suíços, italianos e franceses, instalaram-se em Superagui, onde desenvolveram agricultura com uso de canais de irrigação. Produziram arroz, uva para fabricação de vinho, café e mandioca. A vila de Guaraqueçaba progredia, no continente. As duas primeiras décadas do século XX foi o período da maior prosperidade em Guaraqueçaba, quando navios carregados de banana e madeira faziam linhas até Argentina e Paraguai. Nessa época, agricultores paulistas, em busca de terras férteis e baratas, criam as comunidades de Pedra Chata e Batuva.


Mas, a crise da economia capitalista, de amplitude mundial, ocorrida em 1929, causa reflexos também na região, causando dificuldades na economia agrícola, uma vez que era quase que totalmente voltada à exportação. Na década de 40, alemães fugindo dos reflexos da 2ª guerra mundial, chegam a Serra Negra e Rio Bananal, instalando-se nessa região. As comunidades de Rio Verde e Rio Guaraqueçaba funcionavam como intermediárias à comercialização da banana, originária da comunidade do Batuva, rio acima.


Nos anos 50, instalaram-se as primeiras fábricas de palmito e muitos agricultores migraram para o corte de palmito, diminuindo assim, o uso de parcelas de terra para agricultura. Com a abertura da rodovia ligando Guaraqueçaba a Antonina, a PR-405 (denominada Rodovia Deputado Miguel Bufara, de acordo com a Lei Estadual 7.198 de 13/09/1979) única via de acesso terrestre à região, um novo processo de ocupação foi iniciada. O governo federal liberou créditos subsidiados e reduziu impostos para quem quisesse cultivar café, palmito e criar búfalos. Assim, muitos abriram suas áreas, venderam as madeiras, introduziram o búfalo (que degradou as florestas de planície) e não produziram, nem manejaram o café e o palmito. Somente nos anos 80 reconheceu-se que o estímulo dado às atividades agrícolas convencionais sem fiscalização, acarretou a degradação e a acelerada descaracterização ambiental da região, assim como o empobrecimento gradual da população que ali morava, secularmente.


A partir de então, valorizou-se a região de Guaraqueçaba, procurando resguardá-la do uso indiscriminado e intensivo, criando-se algumas Unidades de Conservação, na intenção de disciplinar e orientar as atividades e valorizar o patrimônio natural existente.


Com quase 500 anos de colonização, Guaraqueçaba mostra uma mistura de hábitos e tradições de índios, portugueses, negros e europeus de diversas áreas. Como resultado, uma cultura rica e diferenciada em relação às de outros lugares do Brasil. Através da história oral, lendas, músicas, danças, artesanato e hábitos alimentares, gerando grande variedade cultural que deve ser resgatada e transmitida às futuras gerações.

FONTE: Atlas Ambiental da APA de Guaraqueçaba

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