Na Ilha dos Valadares, em Paranaguá, o som da rabeca ainda ecoa graças ao trabalho incansável de José Martins Filho, mais conhecido como Mestre Zeca da Rabeca. Nascido em 12 de junho de 1951, ele é pescador, artesão e músico tradicional, reconhecido nacionalmente por seu empenho em preservar o fandango, manifestação típica da cultura caiçara.
Desde os 14 anos, quando começou a aprender com o pai — também construtor de rabecas e barcos —, Zeca se dedica à confecção artesanal do instrumento que se tornou símbolo de sua trajetória. Em sua residência, ele ministra aulas gratuitas de construção e execução da rabeca, mantendo acesa a chama de uma tradição que corre o risco de desaparecer por falta de novos tocadores.
Durante uma entrevista concedida no dia 7 de abril de 2018, Mestre Zeca relembrou o início de sua jornada e a importância dos grupos que mantêm viva a tradição na região. “Aqui na Ilha dos Valadares comecei com o Mestre Romão. Depois toquei com o grupo do Mestre Eugênio, hoje representado pelo Aurélio, e também com o grupo do Mestre Brasílio. Atualmente, existem quatro grupos ativos na ilha”, contou.
Apesar do esforço, ele relata dificuldades em formar novos músicos. “Estamos com problema de tocador de rabeca, de viola, de bater uma tabaca, um adufo... A rabeca é difícil de tocar, não é pra qualquer um. Hoje, da minha família, só eu toco”, disse o mestre, que também cria miniaturas dos instrumentos para incentivar a curiosidade e o interesse de quem não tem aptidão para a música, mas se encanta pelo artesanato.
Zeca explica que a confecção do instrumento é mais acessível do que aprender a tocá-lo. “Se o cara tiver vontade e interesse, ele faz. Tenho alunos que já estão construindo instrumentos, como o Aorélio Domingues, do grupo Mandicuera (Associação de Cultura Popular Mandicuera), que também ensina outros aprendizes”, exemplificou.
Com aulas oferecidas em sua casa ou no domicílio dos alunos, Mestre Zeca reforça a importância do incentivo para a continuidade da tradição. “Se o próprio professor não der força, o aluno desanima. A minha ideia é manter essa cultura viva. Se tiver mais um como eu, ela não morre”, concluiu.
Mestre Zeca é símbolo da resistência cultural paranaense. Seu trabalho inspira e emociona quem valoriza as raízes do povo caiçara, garantindo que o som da rabeca continue encantando futuras gerações.
Texto e fotos: Edye Venancio
Fotos: Moyses Zanardo
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