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Júlia Maria da Costa ou Júlia da Costa em Paranaguá

JULIA DA COSTA

A poetisa Júlia Maria da Costa nasceu em Paranaguá, a 1 de julho de 1844. Era filha de Alexandre José da Costa e de Da. Maria Luiza da Costa.

Júlia da Costa fêz o curso primário na escola particular dirigida pela professora Jessica James. Inteligente e viva, aprimorou sua educação por meio da leitura. Tornou-se mulher dotada de grande desenvolvimento intelectual para o tempo em que se tornara moça. Dedicou-se às lides literárias, possuindo primoroso estilo. Elegante era-lhe a prosa. Inspirados e de variados matizes os seus versos. Tocava piano muito bem.

Alma compassiva e boa, muito sofreu com o casamento imposto pelos pais. Dotada de temperamento romântico, não se pode afeiçoar ao caráter rude e mercantil do inculto esposo. Porém, humilde e resignadamente, viveu sem jamais queixar-se ou revoltar-se contra seus progenitores. Era-lhe suave lenitivo transvasar "o cálice da amargura" em sentidas, mas inspiradas rimas. Dedicou-se igualmente ao conto. Usou o pseudônimo Americana.

Inteligência cristalina encaminhou a serviço do coração. Tudo fez para estimar o marido, de quem foi companheira fiel, embora o coração vivesse a sangrar.
Júlia Maria da Costa é alma irmã de Casimiro de Abreu. Escreveu o livro — "Flores dispersas" 1867, que foi publicado dois anos após o seu falecimento, graças à iniciativa dos grandes literatos Dario Vellozo, Sebastião Paraná,
Euclides Bandeira e Leocádio Correia, e "Buquê de violetas", 1868.

Já doente em S. Francisco, Estado de Santa Catarina, onde residia depois do casamento, iluminava-se-lhe o olhar e o semblante sorria, quando lhe falavam de Paranaguá: Rocio, Campo Grande, Itiberê, cuja mansidão das
águas faz lembrar os poéticos e românticos canais de Veneza, Itália.
Velhinha, quase cega, Júlia da Costa, nos últimos anos da vida, sofrendo dentro de quatro paredes sombrias todas as amarguras da ansiedade, relembrava um vulto olímpico,
caído das graças de Jeovah onipotente. Privada da carícia da brisa, dos beijos típicos do Sol, dentro das trevas do seu aposento, longe do bulício da vida e do seu querido torrão natal, a poetisa paranaguense terminou os seus dias na poética e amiga terra, onde fruiu os seus dias de desventura.

Júlia da Costa colaborou nos jornais, revistas do seu tempo, tanto de Curitiba, como de Paranaguá e de Porto União.
Faleceu a nobre alma a 12 de julho de 1914, em S. Francisco do Sul.
Esta rua — Júlia da Costa — teve, anteriormente, as denominações de Rua do Campo e Alto da Independência.

(Do livro "Almas das Ruas de Paranaguá", de Maria Nicolas)
Velha senhora

À Julia da Costa
Por toda a vida ela carregou
Uma dor lancinante no peito,
Mágoa profunda que levou
Ao último suspiro no leito!
Presa a poetisa sem algemas
Contou a amargura em poesias,
Relatando solidão nos poemas
Contando o vazio de seus dias!
Não há na vida, assim penso,
Algo maior comparado à dor,
De em meio a silêncio imenso
Dizer não a um grande amor!
Dividir a vida por imposição
Com uma pessoa que não ama,
É como enlouquecer de solidão
No triste final de um drama!
Enclausurada a senhora viveu
No silêncio do casarão hostil,
Entre papéis e poemas morreu
Na solidão de um quarto vazio!
Descansou a velha senhora
Das aflições de seu martírio,
De lágrimas que a dor chora
Em amargas noites de delírio!
Sossegou dos sonhos imersos
Envoltos na amargura sofrida,
Retratados em chorados versos
Que compôs por toda vida...!
Restou à ela sua maior glória
Que o tempo jamais apagará:
Está ela consagrada na História
Como primeira poetisa do Paraná!
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Nivaldo J. Rocha

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