O ano que se
encerra neste mês guarda uma marca histórica, especialmente, para os homens. Em
2018, os comprimidos contra a disfunção erétil completaram 20 anos de venda em
farmácias do Brasil e de outros países.
A descoberta,
feita ao acaso pela ciência que investigava medicação para pressão alta,
permitiu a milhões de homens reativar sua vida sexual. Especialistas ouvidos
pela Agência Brasil consideram que a oferta desses gêneros de medicamentos
impactou a sociedade. “Foi uma revolução sexual como a pílula [disponível a
partir da década de 1960] causou na mulher”, avalia Carlos da Ros, chefe do
Departamento de Sexualidade e Reprodução da Sociedade Brasileira de Urologia.
“Foi uma
revolução sim”, concorda o também urologista Osei Akoamo Jr. “Trouxe de volta
uma população que podia ter uma atividade sexual rotineira de qualidade”. Em
sua opinião, a medicação permitiu a casais que sofriam com o problema a
“felicidade do ponto de vista sexual”.
Além de mudar
o comportamento, o advento da medicação contra a disfunção erétil estabeleceu
para a ciência novos paradigmas, assinala Lucio Flavio Gonzaga Silva,
cirurgião-urologista e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará.
Segundo ele, décadas antes da venda de medicamentos “a disfunção erétil era
tratada como problema de fundo psicológico. A ciência não sabia como se
processa a via metabólica da ereção”.
Princípio
ativo
O urologista
Carlos da Ros acompanhou de perto a evolução da pesquisa científica na área e participou
de estudos de eficácia e tolerabilidade do fármaco citrato de sildenafila
feitos no país e outras partes do mundo ainda em 1996.
O princípio
ativo testado resultou dois anos depois no pioneiro Viagra (da empresa
norte-americana Pfizer) e hoje, após a quebra de patente em meados dessa
década, está disponível em medicamentos fabricados por mais de 20 laboratórios
instalados no Brasil, conforme consulta à página de produtos regularizados no
portal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Além do
citrato de sildenafila, há no mercado outros medicamentos registrados pela
Anvisa com princípios ativos diferentes e a mesma finalidade como os fármacos
de tadalafila, vardenafila, e carbonato de lodenafila.
Segundo Carlos
da Ros, os homens mudaram de atitude após a venda desses medicamentos. “O tabu
era muito forte, uma coisa cultural. Era muito difícil os pacientes chegarem no
consultório e dizer ‘estou impotente’. Esse tabu caiu por água baixo. Isso fez
com que os homens ficassem mais tranquilos e logo depois do aperto de mão na
consulta dissessem: ‘olha meu problema é sexual’”.
“Não tem que
ter vergonha em absoluto”, testemunha o funcionário público aposentado Cruz de
Almeida, 68 anos, que prefere ser identificado sem o prenome. “A tendência é
conversar melhor cada dia. Até recentemente as pessoas costumavam esconder.
Escondendo as coisas você não vai ter um tratamento adequado”, opina Almeida
que toma 10 miligramas diárias de tadalafil.
O médico Lucio
Flavio Gonzaga Silva calcula que por ano um milhão de homens passem a ter que
consumir medicamentos contra a disfunção erétil. De acordo com nota do
Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, o
Sindusfarma, entre novembro de 2017 e outubro de 2018, foram vendidos 68,32
milhões de comprimidos contra impotência sexual.
Conforme dados
auditados pela consultoria IVQVIA, nesse período as vendas desses medicamentos
somaram R$ 560 milhões. O valor equivale a uma participação de 0,91% no mercado
total de remédios no país.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Divulgação/Pfizer