A manhã deste sábado (16) foi diferente para a comunidade do Rio
Sagrado, em Morretes, no litoral do Estado. Ao invés do corriqueiro barulho da
mata, se ouviam sirenes e alertas. Eram os avisos para que a população se
deslocasse ao ponto de encontro, simulando uma situação de risco de desastres
naturais.
A atividade foi coordenada pela Defesa Civil Estadual, envolvendo
também a Regional do órgão no Litoral, Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do
município.
A intenção foi colocar em prática os protocolos de envio de informação
entre as Defesas Civis e de alertas à população no caso de fortes chuvas que
possam causar problemas como alagamentos, deslizamentos e inundações.
O coordenador estadual do órgão, coronel Ricardo Silva, explicou que a
operação analisa os trabalhos de aperfeiçoamento dos sistemas e da equipe da
Defesa Civil, já que o simulado marcou os oito anos dos desastres que atingiram
o litoral paranaense, evento que ficou conhecido como Águas de Março.
“Foi a oportunidade de colocar à prova todo o planejamento feito há
oito anos, que inclui nosso sistema informatizado e o treinamento feito nos
municípios”, disse Silva. “A atividade envolveu a população, as autoridades
municipais e órgãos de segurança. Com isso, demonstramos que o Estado trabalha
de forma preventiva na segurança da população paranaense”, afirmou.
PREVIAMENTE - Os moradores participaram de uma reunião prévia para que
as atividades do simulado fossem explicadas, assim como os locais para reunião
antes de se deslocar ao abrigo. Com isso, a população se condiciona a agir
preventivamente quando alertas e informações da Defesa Civil chegarem. A
comunidade conta com cerca de 200 famílias.
Ao mesmo tempo em que o simulado foi feito no Litoral, equipes da
Defesa Civil Estadual monitoram as atividades a partir do Centro Estadual de
Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cegerd), localizado em Curitiba.
“Acompanhamos remotamente tudo o que aconteceu no simulado, de onde iniciamos
as ações com o envio de alerta de abandono de área, além dos alertas que
começaram a ser enviados à população, de maneira simulada, desde quinta-feira”,
explicou o chefe do Cegerd, capitão Anderson Gomes das Neves.
RESILIÊNCIA - Ações como essa são importantes para que danos e
prejuízos sejam diminuídos, especialmente para as pessoas. A resiliência, isto
é, a capacidade de suportar o desastre, é um dos fatores mais importantes de
uma comunidade.
De acordo com o major Jonas Emanuel Benghi Pinto, subcomandante do
Corpo de Bombeiros do Litoral, o treinamento salva vidas. “Ele nos capacita a
responder maior efetividade em caso de desastre. Hoje temos os fenômenos
meteorológicos chegando com maior intensidade e cada vez mais o poder público e
a comunidade tem que estar preparada”, ressaltou.
Segundo ele, com a atuação conjunta entre o poder público e a
sociedade, é possível desenvolver essa capacidade de evitar riscos e agir
rapidamente quando há desastres.
RADIOAMADORES - Além da Defesa Civil e Bombeiros, participaram também
os radioamadores voluntários da Rede Estadual de Emergência de Radioamadores
(REER), que auxiliam na comunicação e acompanhamento do exercício. Com o
auxílio dos radioamadores nos desastres, é possível transmitir informações e
garantir a comunicação das equipes de resposta mesmo quando existe falha nos
sistemas normais de telefonia e transmissão.
GEOLOGIA - Uma das etapas do simulado é a análise de risco de
deslizamento a partir de um protocolo estabelecido na Defesa Civil Estadual.
Segundo a geóloga da Defesa Civil, Fabiane Acordes, são feitas visitas
nas residências para uma análise técnica de risco. “Estamos desenvolvendo um
check list para que os agentes municipais observem o que tem no terreno que
pode predispor uma situação de deslizamento”.
Os geólogos do órgão fazem a análise do local, procurando por indícios
de que um deslizamento pode ocorrer e afetar uma residência próxima à encosta.
São indícios presenças de trincas, rachaduras, água escorrendo no solo, se a
moradia se encontra em declive, entre outros fatores.
O protocolo visa facilitar a análise pelas Defesa Civis municipais de
situações que possam ter risco para a população.
NA PRÁTICA - A ação deste sábado envolveu cerca de 200 residências na
comunidade do Rio Sagrado. Foram utilizados três ônibus para levar os moradores
a um lugar de abrigo, duas viaturas do Corpo de Bombeiros 4x4 e duas viaturas
da Defesa Civil.
Os moradores que não receberam SMS com o alerta da Defesa Civil foram
avisados pelo som das sirenes que percorreram a região.
Quando ouviu a sirene, a dona de casa Izaura Nunes Machado, 64, saiu
de casa e foi direto ao ônibus que aguardava a população em frente à Igreja, um
dos pontos de encontro marcados pela Defesa Civil. Ela presenciou o desastre de 2011 e disse que
agora com conhecimento, a sensação é de segurança. “Eu acho muito bom isso,
porque as pessoas precisam aprender a agir”, disse.
Franciele Morgesde Andrade, 24, mora com o marido e três filhos em uma
casa no mesmo terreno que os pais e conta que teve que ser resgatada no
incidente de 2011. “Não tinha para onde correr e eu estava grávida do segundo
filho. Fui resgatada pelo meu pai e já presenciei bastante risco’, disse. A
casa dela é atingida pelo Rio Sagrado, que passa na parte de trás. “Com o
treinamento, nos preparamos para onde correr e o que pegar. Antes, quando a
gente via, a água já estava dentro de casa e agora estão fazendo um bom serviço
com a comunidade”.
O prefeito de Morretes, Osmair Costa Coelho, agradeceu o apoio da
Defesa Civil e do Governo do Estado. “Quando aconteceu o transtorno em 2011,
não tínhamos o preparo necessário e agora esse estudo em todas as localidades
de risco e a simulação nos permite fazer o resgate em tempo e ofereça um local
adequado para acomodar a população”, disse.
Segundo o capitão Romero Nunes da Silva Filho, da Defesa Civil, o
simulado colocou em prática diversos protocolos desenvolvidos para possível
atendimento de desastre. “Conseguimos emitir SMS, fazer com que eles fossem aos
pontos de encontro, a transmissão de dados em tempo real para Curitiba e a
participação da população, mesmo em dia chuvoso”, afirmou.
O simulado também teve o objetivo de identificar o que pode ser
melhorado e o que deve ser alterado. “Em 2011, a maior dificuldade era saber
quantas pessoas estavam nessas áreas e hoje todas as casas são
georreferenciadas, mapeadas, classificadas, em qual delas tem morador com
necessidade, o que otimiza o tempo de resposta”, disse.
Fonte: Agência Estadual de Notícias