No país do
futebol, encontrar mulheres jogando bola nas ruas não é algo tão comum como se
espera. A prática ainda é pouco valorizada e amplamente associada ao universo
masculino. O cenário vem mudando ao longo do tempo, embora ainda sejam muitos
os relatos de brasileiras que contam que, para jogar futebol, sempre tiveram
que estar entre homens.
“Tenho 47 anos. Quando jogava bola, minha mãe
voltava do serviço e me via jogando com os moleques. Ela ficava de cara feia,
mas, mesmo assim, eu sempre joguei com o pessoal. Já joguei futebol, basquete,
já fui federada em vôlei – já que não podia jogar futebol. Nem basquete direito
eu podia jogar porque o pessoal já tinha preconceito”, contou a consultora de
vendas Marcia Vieira.
A bancária
Bruna Garcia, 29 anos, também começou a jogar futebol quando criança. “Comecei
quando tinha 6 ou 7 anos. Ia pra casa da minha avó e meu primo fazia bolinha
com meia. A gente ficava jogando na sala. Na minha infância, eu sempre joguei
na rua. No colégio em que estudei, fazia treino junto com os meninos. Jogo no
videogame também. E não parei. Sempre gostei”, contou. “Os meninos me chamavam
de moleque porque eu jogava futebol e era a única menina no meio deles. Mas eu
nunca dei ouvido a isso”.
Essa ausência
de um time de mulheres jogando nas ruas também é uma lembrança comum entre os
homens. “Pelo menos na minha infância, eu não lembro de ter um time só de
meninas. Mas sempre tinha uma [menina jogando] no time [de meninos]. Não tinha
com quem ela jogar e ela acabava jogando com os homens”, relembrou Marcos
Vinicius Tonet Marcolin, 30 anos, advogado que dá aulas de futebol na escola
Boleiras Futebol Feminino, em São Paulo.
Na capital
paulista, um grupo de mulheres sai do trabalho e se reúne pra jogar futebol à
noite. Algumas chegam a participar de campeonatos, como a designer Carolina
Toledo, 29 anos. “É muito gostoso. O clima é bem amistoso. Todo mundo tem
vontade de brincar um pouco aqui, descontrair. Tanto é que se formou um time,
às quartas-feiras, para participar de campeonatos. Está sendo bem divertido. E
é desafiador também. No campeonato, a gente tem que se desenvolver
tecnicamente”, disse.
O cenário,
apesar de ainda não ser considerado adequado, registra melhorias, na opinião
delas. “Acho que, hoje, vai começar a abrir um pouco mais pra essas meninas
mais novas poderem fazer carreira”, disse Marcia. “Teve muita luta aí, muita
coisa antes disso. Outras jogadoras que abriram esse caminho pra essa seleção
[feminina brasileira]. Hoje, está tendo maior visibilidade também”, falou.
Enquanto elas
treinam e jogam em uma quadra em Pinheiros, Luiz Antonio de Souza, 38 anos,
fica sentado na arquibancada observando. “Hoje eu vim prestigiar minha esposa
que está jogando futebol. É o esporte predileto dela. Acho legal essa prática.
É uma modalidade difícil, mas ela adora e eu venho prestigiar. Eu também jogo e
ela me vê jogando. A gente faz essa troca. É gostoso ver ela dando os passes,
fazendo os gols”, contou.
Torcida
A seleção
feminina brasileira entra em campo amanhã (9) contra a Jamaica pela Copa do
Mundo da França e terá uma grande torcida aqui no Brasil. Em São Paulo, o mesmo
grupo de mulheres que se reúne toda semana pra jogar futebol já declarou que
vai acompanhar os jogos da seleção e torcer muito pelo título.
“Com certeza
vou torcer. Vou tomar cerveja com a mulherada para assistirmos aos jogos
juntas”, disse a consultora de vendas Marcia Vieira, que aposta no título.
“Elas [jogadoras da seleção brasileira de futebol] estão batendo na trave.
Tomara que, dessa vez, vá de primeira. Elas têm o meu respeito”, acrescentou.
A bancária
Bruna Garcia também promete torcer bastante pela seleção. “Vou torcer muito. As meninas agora vão nos
representar e vamos vibrar com elas”, contou, ao citar ser fã da jogadora
Marta. “Ela é uma referência no esporte”.
A designer
Carolina Toledo espera pela competição há muito tempo. “Estou extremamente
ansiosa para assistir os jogos. Estamos com as três melhores jogadoras que se
pode ter: Cristiane, Marta e Andressa. E a Formiga também, que vai se
aposentar. Acho que é um momento muito importante para a seleção brasileira”,
disse ela, que aponta Alemanha, Estados Unidos, Japão e Inglaterra como
favoritas ao título.
Fonte: Agência BrasilElaine Patricia Cruz
Foto: Rafael Ribeiro/Divulgação CBF
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-06/mulheres-relatam-historias-de-preconceito-ao-jogarem-futebol-nas-ruas